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Congado e Moçambique do Sapé:

amor, devoção,

união e voos altos

NOSSOS CURSOS

Caracterizado como uma religião afro-brasileira e também uma manifestação cultural, o congado possui, em sua especificidade, dramatizar música, coroando assim, um rei do Congo. O mesmo possui como tema, três particularides importantes: a vida de São Benedito, o encontro da imagem de Nossa Senhora do Rosário submergida nas águas e a representação das lutas de Carlos Magno contra as invasões mouras.

Fomos buscar na história a origem dessa cultura tão presente em nosso país. Segundo a historiadora Natália Pimenta de Carvalho, que fez um estudo minuncioso sobre esse assunto em 2008, o que se conhece do surgimento do congado, não tendo certeza da veracidade, é que ao longo dos anos as pessoas foram contando várias versões sobre essa manifestação popular e religiosa. “A lenda do Chico Rei é a versão que impera sobre o congado. Existia um monarca africano com o nome de Chico-Rei, e que foi capturado e trazido ao Brasil pelos navios negreiros, junto com sua família. Devido às condições precárias de navegação e à longa viagem, sua esposa e um de seus dois filhos não resistiram e acabaram perecendo. Ao chegar no Brasil, Chico foi trazido para Vila Rica, atualmente Ouro Preto-MG, onde trabalhou como escravo nas minas de ouro, onde também conseguiu comprar sua alforria e se tornou senhor, ganhando o respeito dos demais negros, que assim organizaram homenagens inspiradas em danças africanas e nas tradições das crenças católicas”, afirma Pimenta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ainda segunda Natália, a palavra Congado é oriunda da palavra “Congo”, que no século XVII era o maior entres os reinos africanos, assim como Moçambique. Ela ainda explica o porquê dessa manifestação cultural ser visivelmente mais praticada em Minas Gerais do que nas demais regiões brasileiras: “o regime imposto aos escravos nas minas de ouro era muito mais brando do que o praticado nas fazendas de cana de açúcar do nordeste, o que tornou mais fácil a proliferação e a manifestação da cultura afro nessa região.”      

 

Como citado, estado de Minas Gerais é um dos principais a valorizarem essa cultura. Na cidade de Brumadinho, localizada a 50 km de Belo Horizonte, existem várias comunidades quilombolas, e o congado e moçambique fazem parte do dia a dia desses moradores. Ao todo, são sete de guardas de Moçambique e uma de Congo, todas vinculadas à irmandade de Nossa Senhora do Rosário.

Na zona rural do município, mais especificamente na comunidade de Sapé, um grupo tem dado o que falar. O Grupo Congo e Moçambique da Comunidade do Quilombo de Sapé é, com cerca de cem membros, um dos mais tradicionais de Minas Gerais, com aproximadamente 300 anos de história na família.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para quem se depara com a Adriana Regina Braga Silva, conhecida por Dina, logo pensa em que a felicidade faz parte da vida dela, e uma boa explicação para isso é o congado. “Sempre sorrio. Sorrio para a vida, para o congado, para minha família. O congado é a minha família. Eu acredito em Deus, aí depois nos meus filhos, e depois no congado. E o nosso congado é passado de geração em geração, de família para família, e todos somos assim”, diz a Dina, em tom emocionado.

Dina é casada e tem 3 filhos. Toda sua família, que mora na comunidade do Sapé, vêm de família quilombola. O vilarejo foi criado por um escravo, que ganhou um pedaço de terra e foi construindo sua família. De lá pra cá, o congado foi ganhando força e novos adeptos. Tudo isso devido a união dos membros, o que é crucial num grupo. O festejo é realizado no dia 25 de maio, mas “a gente começa em maio vai até janeiro, aí a gente para em fevereiro e março por causa da quaresma porque a gente não pode bater as caixas e tambores. Elas ficam encostadas, não pode nem cantar as músicas do congado”, completa Dina.

No congado existe também hierarquia. Dina é capitã, e sua tarefa é iniciar músicas do congo, orientar as pessoas que estão em sua volta e verificar se tudo anda dentro dos conformes. Para ela é uma honra ser líder, pois “meu tio Cotó me colocou como capitã. Eu tenho muito orgulho disso, muito mesmo. Canto músicas que são da época da minha avó, e também posso inovar e cantar novas canções.”

As vestimentas são feitas pelas artesãs do grupo, mas os instrumentos musicais não. Nair de Fátima Santana Silva, uma artesã local e também congadeira, disse que as roupas são fáceis de fazer, mas as ferramentas de som são complicadas. “Os uniformes são fáceis de fazer. Um corte aqui, uma costura ali. Rapidinho está pronto. Agora, antigamente fazíamos os instrumentos, mas hoje em dia, com essa facilidade toda de comprar e muitas vezes ganhar, nem mecho mais. Os tambores são complicados, porque precisamos de pele de animal, coisa que não tem por aqui. Covardia matar nossos bichinhos. (risos). Já os chocalhos, que acompanham o ritmo dos pés, são feitos por latas e pequenas pedrinhas. Vamos chacoalhando e batendo caixa pra longe, fazendo barulho, dançando e cantando, e também exibindo as roupas (risos)”, conclui a artesã.

O grupo se apresenta em várias lugares, como festas religiosas de Brumadinho e região, casamentos da cultura, festejos de irmandades e demais festas. Recentemente, o Grupo Congo e Moçambique da Comunidade do Quilombo de Sapé alcançou o ápice: Participar do Festival Canavial – Raízes em Movimento, em Pernambuco. Este festival, que estava na sua nona edição, resgata a cultura e promove o encontro de várias guardas.

Afonso Oliveira, produtor cultural e consultor de politicas culturais do evento, disse que a participação do grupo brumadinhense no festival proporcionou um dos mais históricos encontros do evento. “Certamente foi um dos mais históricos encontros do Festival Canavial. O encontro do Congo de Sapé, da sua Minas Gerais, e o Maracatu Estrela Brilhante, de Recife. Foi emocionante assistir, viver e vivenciar. Ainda tiveram a participação de outros nomes que também enriqueceram e muito o festival, que é, talvez, o mais tradicional do país”, conclui Afonso, que gentilmente nos atendeu via telefone. O Festival Canavial tem o apoio da Petrobras, através da Lei de Incentivo à Cultura.

O grupo saiu de Brumadinho no dia 15 de novembro de 2015, ao meio do dia, e tinha previsão de chegada no dia da apresentação – 19 de novembro. Antes da partida, houve uma pequena apresentação e também oração pedindo proteção. Com o grupo, foi o fotógrafo e cinegrafista Thiago França Duarte, que ficou encarregado de registar todos os momentos. Thiago nos contou que jamais havia participado de uma experiencia assim. “Primeiro que, na viagem, o cansaso não tirou a empolgação das 45 pessoas do grupo dentro do ônibus. Depois, ao chegar, a sensação e emoção tomaram conta do ambiente. Registrei pessoas chorando, emocionadas. Foi uma experiencia inesquecível.” O cinegrafista ainda nos disse que trocou experiencia com vários profisionais da imprensa, e todos saíram maravilhados com o evento.

No evento, a primeira apresentação foi no Engenho de Poço Comprido, em Vicencia, no dia em que comemora o Dia da Consciencia Negra, 20 de novembro, às 9 horas da manha, com o roteiro Capela de Poço Comprido, Casa de Mazé Comunidade e Escola Canavial. No dia seguinte, data da segunda apresentação, deste vez noturna, às 21h, o grupo foi até o Ponto de Cultura Estrela de Ouro se apresentar. Em meio aos aplausos das apresentações e o descanso, receberam o convite para irem até Olinda, exibir suas danças e ritmos. O convite, para o grupo, foi muito especial.

Dentre os 45 integrantes que viajaram, cerca de 10 crianças estavam no meio. Segundo Dina, a tradição chega na família por geração, e sempre foi assim. Eles cantam, dançam, aprendem a bater tambor e se divertem muito. “As crianças são nosso futuro, né? Futuro meu, seu, dos meu filhos, dos seus futuros filhos. O mais legal é que a cultura do congado é passade de geração à geração, sempre de forma firme, forte, com muito amor. Isso faz com que a nossa união seja praticamente enterna, e a ligação com nossos ancestrais seja forte. Eu danço pra eles e amanhã alguém dança por mim.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre projetos futuros, Dina não esconde a ansiedade de ir para fora do estado de novo. Eles acabaram de receber um convite para apresentarem no Espírito Santo. Ela, emocionada e em bom tom, fala que não vê a hora de viajar. “Pernambuco gastaos 4 dias dentro do ônibus. Pra Espírito Santo, que gastaremos 8 horas, dá até pra ir e voltar no mesmo dia. Fiquei muito feliz com o convite, ainda mais se for igual foi o de pernambuco, de graça (risos). É sinal de que estamos fazendo bonito. É gratificante. Ficamos muito felizes. Muito mesmo. Já estou até separando a roupa de praia (risos)”.

É nítida a importancia do congado para a cultura brasileira, para vida de Dina e também para os moradores do Sapé. Perguntado sobre a importância do congado para sua fé, para finalizar, responde de forma surpreendente: “Pra mim tem grande importância. E a minha fé é tão grande que tudo que eu quero, na medida do possível, eu consigo. Tudo que Deus vê junto com São Benedito, nosso guia, as amizades, tudo que ele vê, ele vê e fala assim: ‘ó, Adriana, isso aqui é seu, está na hora de você pegar o que é seu,’ aí eu vou e confio.

Estando o congado inteiramente nas raízes brumadinhenses, a Prefeitura Municipal, recentemente, realizou o tombamento do Grupo Congo e Moçambique da Comunidade do Quilombo de Sapé como Patrimônio Imaterial de Brumadinho. Este foi um grande ganho para a cultura afro-brasileira na região.

O grupo percorreu, em 3 dias, 

aproximadamente 2.125 quilômetros de ônibus.

Visualize no mapa as Comunidades Quilombolas espalhadas pelo município

Congado e Moçambique do Sapé: amor, devoção, união e voos altos

Visitante número

Assista abaixo a entrevista sobre o grupo:

Crédito para as fotos e filmagens: Thiago França Duarte

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